Doméstica transforma o que sente em poesias
Um ser humano que vive, respira, sente, pensa e busca. Assim é o dia a dia da poetisa sulcocalense, Rosimeri Goulart Brognoli. A empregada doméstica de 34 anos transforma o que sente em poesias. Poesias escritas dentro do ônibus, no intervalo e outro da faxina, em casa. Uma vida difícil, mas iluminada. Rosimeri percorre dois quilômetros por dia a pé para ter acesso ao transporte coletivo que a leva a Criciúma para a rotina caseira. A força de vontade revela o talento e a arte de refletir. “O trabalho é uma extensão do homem. Mas há uma diferença entre o trabalhar e o sonhar. Eu me completo”, afirma.
Foram tantos escritos que viraram livros. O primeiro foi editado em 2001. “Poema dos Inocentes” fala das desigualdades sociais. O trabalho é fruto da inspiração divina, como ela mesma define. Cinco anos depois, com o apoio da prefeitura municipal, a escritora lança a segunda obra: “Insano Silêncio”. Os poemas, alguns românticos outros de caráter reflexivo e espiritual têm como foco um cotidiano sem reservas e sem limites. “Eu quero que os meus poemas voem no coração e na razão”, afirma.
“Insano Silêncio” possui 46 poemas. Ele foi avaliado pelo conselho editorial da Unesc e aprovado como uma obra que eterniza as pessoas e espaços da região Sul de Santa Catarina. O resultado levou Rosimeri ainda mais longe. Lançou o livro no Espaço Cultural da Universidade, em maio deste ano.
Rosimeri concluiu o segundo grau no ano passado. Agora vai antecipar um sonho antes distante. A Unesc concedeu a escritora uma bolsa de estudos para o curso de letras. “É a minha valorização. A gente percebe que nunca esta sozinha”, ressalta.
Além disso, a poetisa participou do Café Concerto realizado pela Academia de Letras de Criciúma onde divulgou o seu trabalho.
Rosimeri foi a primeira escritora do município. É uma poetisa completa, pois além de escrever, declama seus poemas como se eles estivessem se formando naquele exato momento. A mulher humilde e rica em sabedoria agora escreve o terceiro livro. “Deus nunca escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”, termina.
O livro esta a venda na papelaria Búrigo, em Cocal do Sul a R$ 10,00.
Mais informações pelos telefones 9614-5942 ou 3433-7761, Rosimeri.
Abaixo segue um poema da escritora:
Garimpo em pleno morro
Certeira foste, ó metal modelado
Consumida, pelo corpo de um duro alicerce.
O único que me restara…
Como se não bastasse, a pouco sofrida arrancam de mim,
As jóias em jazidas,
Garimpadas foram, da terra trazidas.
Lavadas as jóias, seus corpos sem vida
Amedronta o amanhecer, o que a noite pode causar,
Amedronta o viver, o que a morte pode levar.
Perguntas, ao vácuo silêncio em resposta.
A dor consome, és homem lágrima a colher.
Garimpo em pleno morro, onde a lama negra esconde as jóias.
E arranca modelo de última geração.
Fabricadas em maderito e papelão.
Calçadas, lindas calçadas, pedras em si amontoadas;
Becos feitos em mutirão.
Nestas ladeiras enormes, tão altos quanto arranha-céus
Vistas de cima, linda paisagem.Que o mar esta mais perto do céu.
Pergunto ao vácuo, resposta certeira.
O vazio retrocede em mais uma angustia, flecha certeira.
O mundo que me convém é utopia.
Rabisco em papel a mais pura covardia.
São heróis os que em meio ao garimpo, consegue se levantar.
Rosimere Goulart Brognoli.